quinta-feira, 15 de março de 2012

A história feita pelos vencidos

"Não te esqueças de que amamos a tranquilidade, deixamos os ratos brincar em paz e mesmo quando os bosques estremecem sob o vento, não temos medo, porque somos parte integrante dessa mesma natureza e ninguém deve ter medo da sua origem ou essência."

Mensagem de um chefe índio ao governador da Pensilvânia no ano de 1796


"O velho Lakota estava preenchido com compaixão e amor pela natureza. (...) Também sabia que o coração do homem afastado da natureza se torna áspero. Sabia ainda que o nosso esquecimento do respeito face a tudo com que se relaciona, a tudo o que brota da natureza e a tudo o que vive, leva igualmente a não respeitarmos o homem."

Standing Bear, chefe Lakota (Sioux)


"Vemos a mão do Grande Espírito em quase tudo: no sol, na lua, nas árvores, no vento e nas montanhas. (...) Cremos no Ser Supremo, com uma fé bem mais forte do que a de muitos homens brancos, que nos trataram como pagãos… Os índios, vivendo perto da natureza e do seu Mestre, não vivem na escuridão.”

Tatanga Mani (Walking Buffalo), índio Stoney (Canadá)


“Certamente já repararam que todas as coisas feitas por um índio são em forma de círculo.
Os nossos tipis eram redondos como os ninhos dos pássaros e sempre dispostos em círculo. Assim era feito porque o poder do universo age segundo círculos e todas as coisas tendem a ser redondas. (…) O céu é redondo e também já ouvi dizer que a terra é redonda como uma bala e todas as estrelas também o são. (…) O sol eleva-se e põe-se num círculo, a lua faz o mesmo, e ambos são redondos.
Mesmo as estações formam um grande círculo nas suas mudanças e voltam sempre aonde estavam. A vida do homem também se faz num círculo, desde a infância até à infância, e assim é para todas as coisas onde a energia se move.

Hehaka Sapa (Black Elk), índio Oglala, ramo dos Dakotas (Sioux)


“Se o Grande Espírito quisesse que os homens se estabelecessem num único lugar, teria feito o mundo imóvel; mas ele fez com que tudo mudasse, para que os pássaros e os animais pudessem deslocar-se e encontrar sempre erva verde e bagas maduras.”

Flying Hawk, chefe Oglala


“(…) Não podemos vender esta terra. Ela foi colocada aqui pelo Grande Espírito e nós não podemos vendê-la porque não nos pertence.”

Chefe índio, tribo Blackfeet


“Os meus jovens filhos jamais trabalharão. Os homens que trabalham não podem sonhar. E a sabedoria vem-nos dos sonhos.”

Smohalla, chefe índio Sokulls


“Olhem, meus irmãos, a primavera chegou, a terra recebeu os beijos do sol e cedo veremos os frutos deste amor. Cada semente despertou, e da mesma forma todos os animais estão cheios de vida.
É a este poder misterioso que devemos também nós a nossa existência. É por isso que concedemos aos nossos vizinhos animais, o mesmo direito a habitar esta terra que nós.
No entanto, escutem-me, meus irmãos, devemos agora contar com uma outra raça, que era pequena e fraca quando os nossos a encontraram pela primeira vez, mas que hoje se tornou tirânica. Muito estranhamente, têm no seu espírito a vontade de cultivar o solo, e o amor de possuir é neles uma doença. Esse povo fez leis que os ricos podem quebrar mas os pobres não. Eles fixam taxas aos pobres e fracos para manter os ricos que governam. Eles reinvidicam-nos a nossa mãe, a terra, apenas para si e entrincheiram-se contra os seus vizinhos. Desfiguram a terra com as suas construções e os seus entulhos.
Esta nação é como a torrente de neve derretida que, quando sai do seu leito, destrói tudo à sua passagem.”

Tatanka Yotanka (Sitting Bull), grande chefe Sioux


“Os homens brancos anunciavam bem alto que as suas leis eram feitas para todos, mas tornou-se rapidamente claro que, no momento em que as adoptássemos, não se importariam nada em quebrá-las.
Os seus sábios aconselhavam-nos a adoptar a sua religião mas depressa descobrimos que existiam várias interpretações da mesma religião. Não conseguiamos compreendê-las, e dois homens brancos raramente estavam de acordo sobre qual se devia seguir. Isso aborrecia-nos muito até ao dia em que compreendemos que o homem branco não levava mais a sério a sua religião do que as suas leis. Eles mantinham-nas ao alcance da sua mão, como instrumento, para as utilizar a seu bel-prazer nas relações com os povos estrangeiros.”

Pachgantschilhilas, chefe dos Delawares


“Assisto com grande tristeza ao declínio da nossa nobre raça. Os nossos pais eram fortes e o seu poder estendia-se sobre todo o continente americano. Mas nós fomos reduzidos e esmagados pela astúcia e pela avidez da raça de pele branca. Somos agora obrigados a pedir, como uma esmola, o direito a viver na nossa própria terra, a cultivar os nossos próprios campos, a beber das nossas próprias nascentes.
Há muitos invernos atrás, os nossos sábios antepassados previram que um grande monstro com olhos brancos viria do Leste, e que à medida que ele avançasse devoraria a terra. Este monstro é a raça branca e a profecia está prestes a cumprir-se.”

O-no’-sa, chefe índio


Excertos de:
Chefe Joseph e outros; O futuro do homem: premonições de índios norte-americanos; s.l.: Largebooks, 2011.